Disléxicos e as Artes - Desenho





Por César B. Del Nero - 17 anos Disléxico

De Disléxico pra Disléxico


Não podemos nadar contra a correnteza, somos diferentes e é muito melhor ser assim; quer dizer que os outros 87% da população não pensam como nós. A natureza compensa tudo, da mesma forma que o surdo, o mudo tem mais tato, maior sensibilidade, etc . Naturalmente temos coisas que são infinitamente superiores aos normais , o segredo é achá-las , e como desenvolvê-las sem saber . Quando estamos conversando, sabemos que além do assunto, já resolvemos até a cor da cortina, a textura da parede, coisas que alguém nem pensou; nos adaptamos com muita facilidade aos assuntos com a menor informação possível. Na prática a prática é mais fácil .

Regras

1- Aprenda a gostar de quem gosta de você . (é o caminho mais curto para ser feliz)

2- Não se preocupe com a sua organização ela é muito boa . (melhore sempre a atenção)

3- Crie pilares para a sua sustentação e equilíbrio, e seja fiel a eles (família , secretárias , amigos)

4- Aja com a intuição , tenha bom senso . (faça o que você naturalmente gosta de fazer e trabalhe com isso)

5- Tenha calma , muita calma. (é necessário para andarmos no mesmo giro dos 87%)

6- Não se magoe ou não dê bola para quem não é seu amigo . (faça duas escalas e qualifique em qual lugar ele merece ficar)

7- Dê ouvidos aos mais velhos . (eles dizem sem escrever)


É natural que a auto-estima é necessária. Pratique esportes, vista-se bem, abra os ouvidos, aprenda olhando, que os resultados virão. Nem sempre é rápido .Após vinte anos de trabalho, sei que é muito melhor ir a uma reunião sem papéis para escrever ou expor, fazer algumas anotações e pronto; sem contar as soluções que aparecem com rapidez ... e a “ata”, deixa para outro fazer. Não precisamos perder tempo com isso.

C. T.

Entrevista de Helena Serra


Helena Serra: "Não culpo os professores pela falta de formação"
Marta Rangel| 2006-10-23


Tem como paixões a dislexia e a sobredotação e, por observar a realidade como ninguém, Helena Serra considera que o actual método de ensino nas escolas básicas pode prejudicar as crianças.

Helena Serra é presidente da Associação de Crianças Sobredotadas e vice-presidente da Associação Portuguesa de Dislexia. Doutorada em Estudos da Criança e Educação Especial, dá aulas há 40 anos e formação há mais de 20. Quando ensina, tenta chegar a todos: desde as escolas mais pequenas, a centros de formação ou a grandes universidades.

EDUCARE.PT: Em média, quantas crianças sofrem de dislexia em Portugal?
Helena Serra (HS): No Ensino Básico, serão 10% a 12% do número global de crianças que o frequentam.

E.: Para fazer face às dificuldades associadas à dislexia, qual deveria ser, na sua opinião, o método de ensino da língua portuguesa nas escolas?
HS: Deveriam ser métodos que privilegiassem a análise e síntese auditiva e visual (analítico-sintéticos).

E.: Acredita que o actual método de ensino possa estar a contribuir para o aumento das dificuldades de aprendizagem?
HS: Acredito que sim. Verifica-se que há, muitas vezes, 'falta de tempo em tarefa', isto é, o treino das diferentes competências, que são básicas e imprescindíveis, não é proporcionado. Houve até alguns professores do EB 1 que, em contexto de formação, me confidenciaram que não tinham tempo para ensinar. Por outro lado, creio que no que respeita à importância do desenvolvimento das pré-competências em relação à leitura, escrita e à matemática, que devem ser criteriosamente desenvolvidas no pré-escolar e no período inicial da escolaridade, há ainda um certo alheamento no nosso sistema educativo. Quanto a isto, penso que deveria ser assumido pelas escolas e jardins-de-infância um 'estar em tarefa' mais eficiente.

E.: Apesar de estar previsto na lei, nota que as crianças com dislexia recebem, na prática, apoio específico das escolas que frequentam?
HS: Tenho vindo a perceber, através de feedbacks colhidos em vários contextos educativos, que se verificam situações extremas no caso destes alunos. Por um lado, há escolas que se esforçam por oferecer apoios pedagógicos dados de forma individualizada nas disciplinas X Y Z (em que o aluno evidencia maiores dificuldades) através de professores e crédito de horas disponíveis. Por outro, há outras escolas que, não dispondo de meios ou não valorizando estas situações, não facultam estes apoios e os alunos vão procurá-los fora da escola, em respostas privadas, quando têm possibilidades económicas para o fazer, ou ficam sem eles, engrossando seriamente as estatísticas relativas ao insucesso e abandono escolar.
Há todavia um aspecto que importa frisar: mesmo aqueles apoios disponibilizados em algumas disciplinas, sendo importantes, não são a resposta essencial de que o aluno está carecido. Nestes alunos, verifica-se que há áreas de desenvolvimento que, apesar do seu crescimento físico e avanço na idade, continuam por se desenvolver e permanecem com baixa eficiência. E se não se treinarem e desenvolverem com estratégias específicas, continuarão fracas, impedindo um nível de realização favorável. Portanto, a par dos apoios pedagógicos dados nas diferentes disciplinas, ou no lugar deles, se houver necessidade de optar, estes alunos necessitam de apoios específicos para treino de competências nas áreas que, numa avaliação compreensiva efectuada individualmente ao aluno, se reconheceu que os desempenhos são impróprios para o nível etário e escola. Esta avaliação compreensiva e estes apoios específicos deverão tornar-se rotina nas escolas, devendo ser implementados precocemente: final do pré-escolar e início do 1.º ciclo do Ensino Básico. Portanto, dessa forma, o sistema educativo adoptaria uma atitude preventiva (o pouco que se faz é oferecido como processo remediativo), evitando-se as muitas marcas que estes alunos vão somando e, simultaneamente, diminuindo estrondosamente o insucesso escolar. Aliás, tal atitude, não apenas do ponto de vista do respeito dos direitos humanos (ao acesso e sucesso, à melhor realização em tempo útil), mas até do ponto de vista económico, traria resultados muito curiosos.

E.: Considera que a maioria dos professores está preparada para detectar dislexia nos seus alunos?
HS: São poucos os professores que obtiveram formação sobre esta problemática. Não lhes tendo sido oferecida nos contextos de formação inicial e não a tendo obtido na formação ao longa da vida, restar-lhes-ia reuni-la em autoformação. Mas há aspectos práticos, da avaliação e intervenção, que necessitam de ser abordados na relação directa. Não culpo os professores por essa falta de formação porque, pela minha experiência ao longo da última década, percebi que eles se afirmam radiantes por ter tido acesso a ela e decepcionados porque consideram que todo aquele conjunto de saberes devia ter-lhes sido ensinado antes de iniciarem a sua vida profissional. E, às vezes, há professores já com vinte e mais anos de serviço!

E.: Muitas vezes as famílias são obrigadas a recorrer ao privado para que os seus filhos tenham orientação pedagógica. O Estado deveria estar mais presente nesta orientação?
HS: Sem dúvida e por várias razões. Todos os alunos são cidadãos de primeira e nós temos legitimidade para exigir responsabilidade a todos os professores, mas, se estão em causa domínios do saber em que não lhes demos formação, fica muito fragilizada a supremacia do Estado. Verificam-se múltiplos desgastes nos alunos, nas famílias e nos professores por falta de conhecimento da escola sobre a dislexia. A escola só poderá organizar bem as respostas que tais alunos precisam de ter se tiver professores com formação específica neste campo. Na minha opinião, os professores do ensino regular têm de passar a adquirir formação acrescida neste domínio para poder actuar diferentemente com os alunos, assim como os professores que assumem os apoios socioeducativos.

E.: Uma criança com dislexia tem capacidade para prosseguir os estudos até um nível superior?
HS: Nem imagina quantos eu já avaliei e orientei estão a frequentar ou já completaram um curso no ensino superior! Em geral, são inteligentes, criativos e muitos conseguem desenvolver um elevado nível de resiliência nas escolas. Alguns é claro que desistem. O pior mal é quando a vida escolar lhes deixa as tais marcas negativas e se tornam indivíduos que optam pela desconstrução.

E.: E um adulto, consegue estabelecer-se num emprego e fazer face à dislexia?
HS: Claro! Mais: se a escola e a família, no seu crescimento, não lhe tiverem prejudicado a auto-estima, percebe-se que se tornam adultos com perfis de realização muito bons.

E.: E como é afectada a auto-estima de uma criança ou adulto?
HS: Até que as dificuldades de aprendizagem sejam detectadas, a criança vive insegura, ansiosa, inibida e sempre receosa de se expor ou, porque saturada do seu insucesso, vive desgostosa, sem entender o porquê da sua diferença, e vai assumindo comportamentos desestabilizadores, que revertem de novo sobre ela, como bola de neve negra na sua vida.

E.: Como lidam os pais, na maioria dos casos, com as dificuldades dos filhos? Há rejeição, incompreensão, falta de informação?
HS: Há muita falta de informação e grande desgosto em geral. Há, por vezes, um enorme cansaço porque já bateram a muitas portas e ainda ninguém lhes explicou o que se passa com seu filho ou levam-no há anos a um certo apoio e não há melhoras ou um número enorme de situações de que prefiro não referir aqui. Só muito raramente há rejeição, mas incompreensão há muita.

E.: No que diz respeito à sobredotação, em média, quantas crianças e adultos sobredotados existem em Portugal?
HS: A comunidade científica de outros vários países tem afirmado que serão 3% a 5% de indivíduos na população geral. A Associação Portuguesa de Crianças Sobredotadas projecta iniciar o percurso investigativo que lhe venha a permitir afirmar o mesmo em relação a Portugal.


E.: Considera que os alunos sobredotados devem estar inseridos em escolas do ensino regular ou, pelo contrário, devem ser acompanhados em pólos específicos?
HS: Há quem considere que devem frequentar espaços educativos próprios. Ouvi muitas opiniões estrangeiras avalizadas, li estudos efectuados e penso que não há um só modelo, mas modelos possíveis, consoante a área e o grau de sobredotação do aluno. Em todo o caso, defendo claramente que a sua educação tem de decorrer em espaços comuns, inclusivos, mas neles terão de ser feitas as diferenciações que em cada caso sejam necessárias, sem adiamentos ou simulacros.

E.: Ao estarem inseridos no sistema regular existem riscos de frustração e insatisfação por parte da criança ao sentir que o ritmo de aprendizagem é demasiado lento para ela? Como é que o sistema pode fazer face a esta situação?
HS: Em primeiro lugar, é necessário providenciar para que nas escolas e agrupamentos em geral haja profissionais - professores e psicólogos - com formação neste domínio para o processo adequado poder desenvolver-se. Depois, e uma vez que o Despacho n.º 50/2005 de 9 de Novembro no seu art.º 5.º já prevê a definição de um plano de desenvolvimento para estes alunos, haveria que prestar apoio formativo aos professores que vão efectuar este plano para se evitarem 'desconfigurações' ou 'desvios' no que toca a representações, atitudes, práticas, envolvimento efectivo, etc., e também para conhecimento de metodologias e estratégias apropriadas e para avaliação do processo e vantagens ou dificuldades surgidas.

E.: Como é que um professor, sem preparação específica para casos de sobredotação, lida com uma criança com esta capacidade?
HS: Terá de apoiar-se em tudo quanto possa reunir sobre a temática e fazer autoformação ou procurá-la em instituições de Ensino Superior ou outras que a oferecem com a qualidade imprescindível. A ESE de Paula Frassinetti faz habitualmente cursos de formação FOCO, isto é, acreditados pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua.

E.: Ter capacidades de excelência pode ser, de alguma forma, uma característica negativa? Podem tornar-se crianças infelizes e deprimidas?
HS: Sim. Basta pensarmos que em períodos de crescimento, importantíssimos para o desenvolvimento emocional e da personalidade, algumas destas crianças não conseguem fazer amigos, estar integradas em grupos ou ser aceites pelos seus pares. Passam horas a fio, dias, meses, anos nas escolas a desperdiçar energias e a desmotivar-se e sentir-se infelizes por não terem desafios. Isto porque estão muitas vezes a ouvir o que já sabem há muito e até descobriram sozinhas ou então gostariam de aprender com base em pesquisa, projectos, consulta, questionamentos e estão sujeitas a metodologias inapropriadas para a sua capacidade, velocidade e estilo de aprendizagem.



in www.educare.pt

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O estudante disléxico na Universidade:



É importante estar alerta para a eventualidade de ter um estudante disléxico entre os que frequentam as suas aulas. Assim deverá:
estar consciente de que ele aprende de forma diferente da convencional;
tentar obter informações acerca dos problemas com que o estudante disléxico se confrontou no secundário, especialmente no que diz respeito:
- à capacidade de auto-gestão
- ao seu sentido de organização
- à capacidade de tomar notas
- à gestão do tempo
- à gestão dos projectos e trabalhos a realizar
- ao ensino unidimensional;
reconhecer a frustração que estudante disléxico deve sentir;
reconhecer que as classificações podem ficar muito aquém do potencial do estudante;
reconhecer problemas de auto-estima e de depressão;
demonstrar simpatia, atenção e preocupação;
oferecer-se para ser o professor-tutor ou nomear-lhe um;
saber ouvir e aconselhar quando necessário e nas alturas previstas para tal;
ajudar a organizar os trabalhos;
planificar os trabalhos com datas bem determinadas (por exemplo, o primeiro trabalho sobre o primeiro capítulo na data x, o segundo na data y... e assim sucessivamente);
indicar as leituras obrigatórias nas bibliografias de referência;
assegurar que os direitos previstos na lei em benefício dos estudantes disléxicos são respeitados, nomeadamente em matérias de exames: intervalos, tempo suplementar, leituras, utilização de computadores portáteis, etc.;
ajudar os estudantes a preencher formulários e a redigir pedidos relacionados com os seus direitos;
insistir no reforço dos talentos naturais do estudante.

“Quando me disseram que tinha dislexia, senti medo de ser rejeitada pelas outras pessoas, por ser diferente.
Senti vergonha pelos professores me apontarem o dedo, senti-me sozinha por não ter ninguém igual a mim! Eu queria esquecer e pensar que aquilo era um sonho.
Actualmente, com 14 anos, sou muito feliz, não me sinto diferente porque consigo ultrapassar as minhas dificuldades do dia-a-dia. Sinto-me capaz de chegar a onde os outros chegam.”

Testemunho de Isabel Rapa, 14 anos (2007)